11.19.2007

Pedaço

.
.

Andou um pouco equilibrando-se no meio-fio.

Soprou o vento. Quente feito bafo vindo do forno. Era verão, e os pingos se formavam debaixo do tecido da camisa nova, saindo dos pequenos póros das costas. O rosto vermelho, irritado com o calor e a barba recém-feita. Na camisa, desenhos se formavam conforme andava: as gotas penetravam na malha e o azul ficava quase preto.

Acompanhava com os olhos o ralentado movimento eterno das nuvens. Sempre indo, parecia que estavam em um único e grandioso objetivo, mas interminável. Não se importava com as formas, mas sim com o processo. O ir, mais do que o ficar, sempre. Mas era um ir ficando: isso que atraía inevitavelmente seu olhar.

O céu era muito azul. Azul azul azul, pensava, enquanto as nuvens se encaminhavam para onde elas estavam sempre indo. Um carro passou, muito veloz, e jogou-lhe uma lufada de vento no lado esquerdo do corpo. Tombou e caiu no meio da calçada. Entre uma árvore, um banquinho dos de praça e uma pequena poça de água da chuva do dia anterior, ele ficou no chão, sentindo um pouco a ausência absoluta. Uma nuvem que passa ficando o tempo inteiro.

1 comment:

Anonymous said...

gostei muito. é praticamente estar dentro da sua cabeça que está dentro desse aí que sente e vê o passar das coisas, a luz transparente...
des!