12.14.2006

"Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos." (Marguerite Duras)

Será que de fato existe um ponto em que a linguagem não é mais suficiente? Nenhuma possível linguagem, de nenhum possível sistema. Esse ponto seria o encontro de fato com a essência das coisas (?).

Como descrever a luz amarela sobre um pedaço do muro que se vê através da janela do ônibus? Já tendo descrito, percebo que não consigo descrever. Porque descrever é reduzir. Expressar é reduzir, de certa forma. Aquele pedaço de muro, sob aquele pedaço de luz, definitivamente não me impele a escrever por ser um pedaço de muro sob um pedaço de luz. Mas por quê então? Por algo que, de fato, ultrapassa a expressão da linguagem. Porque, de alguma forma muito misteriosa, aquele pedaço de existência concreta, em algum momento, falou sobre mim, falou comigo. Porque é possível enxergar poesia (vivência e experiência), em qualquer elemento que nos afete. E essa expressão a mim externa e quase aleatória (não uma epifania, mas um suspiro de poesia cotidiana e simples) é uma certa forma de contato com um além-lógico. A essência, para nós, encontra-se em nós mesmos, e, - aí a vantagem incrível de observar e abrir a percepção -, também no mundo, nas coisas. E então, de fato, não há linguagem que dê conta. Mas mesmo assim, tentamos "saber o que escreveríamos".