11.21.2004

E aí, melhorou?

11.20.2004

Blog de cara nova. Alguém notou?

11.19.2004

Ar preso


Abriu a porta e viu que estava preso dentro das suas próprias impressões. Havia há pouco conhecido uma menina que lhe havia absorvido por completo. Ela escrevia palavras perfeitamente encadeadas e falava como quem suspira por alguma constatação muito importante e secreta que acabou de fazer. Ela se concentrava nela e parecia se movimentar através de pequenas explosões ao redor de si mesma. Tinha a leveza na mesma proporção da tristeza, que lhe davam o ar único.

Viu-se no quarto. Televisão, porta, janela e ventilador. Ligou o som, pôs alguma música para poder não-pensar. Mas, será que existe? Resolveu contentar-se com migalhas. Restos de poesia que ela deixava pelos caminhos, a cada passo que imprimia no chão de madeira. Poderia guardar as poeiras que lhe caíam, mas nunca deixar-se perceber. Conseguia tranformar-se em cadeira para não ser notado. Aos poucos, definhava na sua própria consciência. Gostaria de explodir, mas seus pedaços desmoronavam para dentro do seu estômago.

Deitou-se na cama. Olhou para o céu, que aparecia por entre os intervalos da perciana que cobria a janela, meio danificada com os anos. Prendeu a respiração e contou até 60. Um minuto! E ainda podia respirar. Teria que voltar no dia seguinte, e isto não estava nos seus planos. Confrontar-se com algo que, supunha, nunca conseguiria concretizar era angustiante. Tristeza inchada como uma bola de neve. Nem o sol que fazia do lado de fora conseguiria derreter. Preso dentro das suas reduzidas possibilidades, achou que sim. O encanto pode ser tanto um vício como uma asfixia. Preferiu escolher. Abriu a janela e sentiu o ar passar de leve pelo seu nariz. Talvez, quem sabe, agora conseguisse.

11.15.2004

Hospital

Alinhando pensamentos inconclusos
Perfuro a imagem
Mato a sede com os anseios frustrados
Lado a lado
Enfileirados
Calo e acendo o cigarro
Fumo apagado e contento-me
Com a pouca mensagem que me lêem
-se me lêem-
Comprimo as angústias em algumas poucas
palavras apressadas
Retorno ao meu limite
Retirando traço a traço
os espaços apertados
desenho o fim com ingenuidade
e euforia de uma criança que nasce
e morre após a primeira baforada
do ar gelado
condicionado
do hospital

Exercício de sobrevivência

O que é importante agora?, ele se perguntou. Talvez não viver fosse bastante importante. Mas já havia passado dessa fase. A adolescência pode vir e ir de uma maneira estranhamente rápida. Nunca conseguiu entender lamentos vazios, palavras escuras saídas de mentes extremamente brilhantes. Pensava que escuridão tinha que ser honesta, muito mais do que exercício de estilo. Sentia-se um pouco perdido no meio de tantas referências que se esvaziavam conforme consolidava seu próprio buraco. Cada vez mais fundo. Suas convicções não possuíam parâmetro, infelizmente. Será que é possível?

Foda-se a irritação!, pensou. Havia perdido alguns anos e cigarros levando seriamente em consideração suas vontades que, no entanto, se submetiam aos seus medos mais repugnantemente humanos. Reconhecer-se igual é uma atitude muito desconcertante. Qual seria a finalidade de gritar, se podia agüentar a dor calado. Resolveu se concentrar. Degustar a sensação de estar completamente sozinho poderia ser uma atividade interessante, tentaria dar mais atenção a isso. Convites, interjeições e pequenos diálogos não o enganariam dessa vez. Viver poderia ser suportável, se passasse a observar sua existência definhando a cada minuto que passava. Resignou-se e explodiu alegremente e mais satisfeito do que nunca.