11.15.2004

Exercício de sobrevivência

O que é importante agora?, ele se perguntou. Talvez não viver fosse bastante importante. Mas já havia passado dessa fase. A adolescência pode vir e ir de uma maneira estranhamente rápida. Nunca conseguiu entender lamentos vazios, palavras escuras saídas de mentes extremamente brilhantes. Pensava que escuridão tinha que ser honesta, muito mais do que exercício de estilo. Sentia-se um pouco perdido no meio de tantas referências que se esvaziavam conforme consolidava seu próprio buraco. Cada vez mais fundo. Suas convicções não possuíam parâmetro, infelizmente. Será que é possível?

Foda-se a irritação!, pensou. Havia perdido alguns anos e cigarros levando seriamente em consideração suas vontades que, no entanto, se submetiam aos seus medos mais repugnantemente humanos. Reconhecer-se igual é uma atitude muito desconcertante. Qual seria a finalidade de gritar, se podia agüentar a dor calado. Resolveu se concentrar. Degustar a sensação de estar completamente sozinho poderia ser uma atividade interessante, tentaria dar mais atenção a isso. Convites, interjeições e pequenos diálogos não o enganariam dessa vez. Viver poderia ser suportável, se passasse a observar sua existência definhando a cada minuto que passava. Resignou-se e explodiu alegremente e mais satisfeito do que nunca.


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