8.21.2012

os póros suando, em cima do papel, uma mancha negra, a palavra molhada, viscosa, pegajosa, uma gota espalhafatosa que se gruda na retina dos olhos de quem lê. a palavra não é coisa nenhuma, mas quer dizer o mundo inteiro. quer dizer, quer dizer, quer dizer. palavra que é só desejo. (quando cessar, será que segue sendo a mesma coisa? ou muda de estado, vira gás, uma lufada de ar quente, um feixe de luz, um odor pestilento?) a palavra, de tanto querer, fica no canto, calada, molhando aquilo que lhe encosta, lhe toca, lhe roça, lhe péla. não, palavra, você é oca, casca vazia. você não aponta, nem nomeia, você apenas deseja ser tudo aquilo que nunca, nunca, nunca, nunca vai ser. ou seja, gota molhada, suada, póro escuro - ou claro - buraco no mundo, um desvão tão profundo que deixa um rasgo estranho, esquisito, engraçado, na superfície dessas coisas todas que a gente vê. e das que a gente não vê. você imagina o mundo, decalcado sobre a superfície de uns sons assim, combinados, uns riscos pretos, desenhos estruturados, traços repetidos, movimentos de músculos, abertura de boca, tremular das línguas e de umas outras coisas sem o menor sentido. como uma pilha infinita - imagina só, que vai de um lado ao outro do universo - de coisas jogadas, postas, atiradas, recostadas, umas sobre as outras, como um desenho que se redesenha, se sobrepõe, transparências tantas que, empilhadas, se tornam opacas, como o céu da noite mais escura. o negativo, tudo aquilo que não é. isso é. imaginando o sentido profundo, passo a língua na sua superfície que agarra na minha mucosa, engulo-te toda palavra. assim sim te sinto toda, puro afeto, sentimento no meu estômago, imaginação fisiológica, que me faz cagar, sentir fome, e dormir quando tenho sono. antes de sair, entrar.