9.30.2007

Poesia corpórea feita de vento

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Mordeu o ar e, com um sopro, fez voar sílabas sangüíneas pela noite.

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A pele é o próprio tempo. Contém os resquícios de ontens eternos, respira o eu-mesmo ao redor das ilusões de auto-construção.

Ontem, ele percebeu. Apercebeu-se. Percebeu-se a si mesmo. Era um retrato desbotado, preto e branco e tintas coloridas, gestos vagos e muito incalculados, sorrisos ingênuos e sons perdidos dentro dos caminhos que tecia o ar quente. Eram décadas de vida, traduções impossíveis e alguma coisa de inefável. Era isso, ali, dentro do ônibus, carregando na pele impressões impalpáveis, materializando os minutos em cada respiro involuntário.

9.14.2007


Solzão enorme esquentando o asfalto e torrando as sensações.

Os póros dilatados, mostrando a língua. Todos os pensamentos voltados para o mar.

Ser humano, em materialidade e viscosidade. Óculos grandes e vulgaridade anos 70 à la pornochanchada. Meio menina andando achando-se chique, pernas balançando. Mas no fundo, é Sônia Braga de topless em Ipanema, hippie de botequim, palavrão com elegância e gestos incontidos. Aquela cor de película velha, desbotada pela luz do céu que explode as pupilas e azula as montanhas.

Trópico é pra isso mesmo: suor e goles d'água.

9.08.2007

nunca vou deixar de acordar tarde e dormir cedo,
vivendo eternamente as últimas chances

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não escrevo poesia, porque poesia é cafona. nem filosofia, porque isso é chato. também não é sobre mim, da moda. nem sobre política, porque engajamento já era. não é arte, não é prosa e não é música esta merda. não é porra nenhuma. não é bonito nem feio. não tem essa categoria. não é tocante, não é revelador. não é subjetivo nem objetivo. não tem epifania, nem genialidade, não tem inteligência. não, não tem. não tem talento, nem humor, nem sacadas, nem profundidade, nem superficialidade. não tem experiência, não tem jovialidade, nem frescor, nem originalidade. não tem informalidade, nem coloquialidade, nem leveza, nem precisão. não é novo, nem velho. vai pra porra quem espera qualquer coisa. por isso que o mundo vai mal e as pessoas vão tristes.
percorro os espaços e sinto o tempo passando pelas frestas entre os dentes
sinto passar
vento encanado de horas, dias, anos, décadas

ontem, em 1998, estava escrevendo no meu blog
e morria de saudades dos meus amigos da faculdade

9.02.2007

Entre um ato e outro, parar para respirar.
A memória está impregnada em cada póro.
Respirando, volto a mim.
À casa que carrego incrustrada nas minhas passagens.