10.30.2006

" Muitos
muitos dias há num dia só
porque as coisas mesmas
os compõem
com sua carne (ou ferro
que nome tenha essa
matéria-tempo
suja ou
não)
os compõem
nos silêncios aparentes ou grossos
como colchas de flanela
ou água vertiginosamente imóvel"

(Poema Sujo, Ferreira Gullar)

Voltando ao ínicio. Dando um nozinho, porque todo nó fecha, mas também pressupõe o novo (porque o movimento é inexorável, a não ser que se queira interrompê-lo, mas aqui a idéia é o extremo oposto). O nó é a possibilidade da novidade. Dia bonito e as cores sem filtro. Se as coisas sorriem, é desse jeito, bonito assim.

10.05.2006

A(s) hora(s) inteira(s)

O tato no céu
peixe escuro que ronda a mente de noite
Na noite de todos os dias inteiros
o pensamente perde o foco
perambula por todas as coisas que existem
e não
e chega em lugar algum.
Se no tempo que pára (paira?) por cinco
- ou seis -
horas
espera tudo por ser olhado vago
a memória me deixa acordado.
E - ainda bem - vive-se continuidade.
E não cortado nem metade.
Indescritível

Existe uma parte das coisas que não são descritíveis.
Há o que se vê, o que se decodifica, o que se compõe, racionaliza-se, que se manifesta materialmente. E o resto. O resto é o sentido. E quando colocado assim, tenta-se descrever. E a descrição é absolutamente insuficiente. Não é o sentido do signo. Não aquilo que preenche nossa expectativa. Aquilo para o que não se pode ter expectativa, porque não se prevê, não se mensura. Que não está nas coisas, mas em uma brecha quase inexistente entre o que sai e o que chega. A brecha que está de uma forma diferente, individualmente distinta em cada sujeito. Que não pode ser, senão para cada um. Porque cada um se constituiu de forma inteiramente diferente. E a partir daí, o mundo passa a ser uma construção única, empírica e infinamente solitária. O sentido do mundo que é existir. E existir, que é uma experiência estritamente sua e minha e dele e dela. E nunca nossa. Apenas no sentido que existimos. E aí as coisas são bonitas. Demais.