3.28.2009

Não como morrer,

mas talvez aquele estado de latência do coma induzido:

há lá uma vida, apenas distante do que nos é visível.

3.24.2009

Lamento perto do fim


Mas é tão bom...


Mas era tão bom...

.
.
.


[segurando a metafísica, sempre]

3.15.2009

Estrebuchar
Chafurdar

às vezes as palavras prescindem do seu significado.


Hoje de manhã, acordei tão bem disposto, que estrebuchei um pão com queijo minas delicioso, enquanto a luz do sol chafurdava nos meus pensamentos.

O estrebucho ficou preso ali na porta da sala. Não chafurda demais, senão ele pode acabar soltando e quebrando o vidro da mesa.

3.10.2009

Atividade de esvaziar sem estagnar

Diante da cidade
por sobre. sob. entre. dentro. fora.
de todos os afetos
Antes de ver e depois de ouvir
(sem falar)
Diante da multidão de ausências
madrugada
e as horas que passam
passam e páram e acenam com a luz amarela de poste
As pessoas tão assim
entretidas em si
Diante da miríade incomensurável
de camadas secas e molhadas
dos espaços que trepam
uns sobre os outros
Caminhos possíveis
eu, o outro
Diante.
Mergulhou
num fôlego do tamanho da sua memória
tentou escrever a saudade e a presença e a ausência

Mas não se trata de escrever. Nunca. Nem de ver. Muito menos isso! Nem ouvir, nem representar.

Esteve um pouco. Recostou e existiu por quatro tempos de um silêncio que espalhou pela superfície.
Dos olhos. Do asfalto das ruas. Do cinza do azulejo. Do azul metálico do carro a 100km/h. Das vozes queridas.

Assim é a cidade. Assim terá que ser.

3.02.2009

Atividade de um cheirador


Quanto de espaço sobra depois de aspirar com as narinas todas as ruas da cidade?

Como o drogado cheira sua carreirinha, ele passou a se dedicar, dia-a-dia, a puxar para os pulmões as ruas e quarteirões de que sentiria mais falta.

As esquinas ficariam, quem sabe, pra última semana. Essas seriam demasiado pesadas pra um sorver corriqueiro.

Mas, afinal, quanto de espaço sobraria?