7.02.2005

A mesma falta de horizonte


Andou três vezes o mesmo caminho. Padaria, bar, canteiro com o cachorro dormindo e praça onde os velhos sentiam o tempo sentados em um banco. Chegava sempre à falta de conclusões. Desenhava o mapa de suas caminhadas para ver se conseguia se reconhecer no que não estava nele. A cidade poderia ser muito mais reveladora do que sua própria falta de pensamentos. Talvez.

Penava quando caía a noite. A constatação da sua solidão era inexorável então. Não a solidão dolorosa, mas aquela na qual estamos mergulhados desde o momento em que nascemos. O mundo não era, senão para ele. As conversas de todos os dias pareciam ser sempre as mesmas e tinha quase certeza que a alegria de viver - se ela existia - estava no fato de que as pessoas conseguiam atravessar os dias mergulhadas até a cabeça na sua própria construção. Ele não. Precisava encontrar o sentido nas coisas fora dele, já que o interior já havia se mostrado tão asséptico como o lençol de uma cama de hospital.

Sua ocupação era a da resistência. Sabia que, na verdade, era uma busca sem resultados. Conseguia distinguir claramente a sua vontade do que lhe era apresentado. Ao mesmo tempo, a beleza da falta de sentido o instigava de uma maneira quase carnal. Poderia passar os seus dias degustando a objetividade vazia que absorvia. Amava as pessoas, amava o fato de que as pessoas são irredutivelmente sozinhas. E conseguia, ao final de uma jornada muito cansativa, finalmente, reconhecer-se igual. Árvore, mesa, cadeira. Livro, caderno, seu melhor amigo. Meio-fio, carro estacionado, mendigo na esquina e sua mulher. Seu cachorro e ele. Todos com a mesma falta de finalidade, cada um perplexo de sua própria maneira.

A felicidade, talvez, tivesse lhe chegado da maneira mais brutal. E sangrava ao mesmo tempo que aprazia. Paz.

Começava, então a se preparar. Tudo de novo...