7.17.2016

tristeza

eu olho pra foto, minha imagem que você registrou
nela não existe nada de errado
eu olho pra câmera, corpo curvado

você olha pra mim
eu olho pra você

quando eu vejo a fotografia, é como se eu estivesse
junto de você
imagino suas mãos sustentando a câmera, imagino seu dedo apertando o botão
imagino seus pensamentos
eu me sinto perto de você então
você no passado
e o presente vira apenas asfixia

no meu olhar naquela pose
--eu lembro--
--eu acho que eu lembro--
está contida uma crença enorme, que me movia
 
nunca seria possível que aquela foto não fosse eterna

aquela proximidade, aquela relação
onde será que tudo deu errado?
aonde será que aquele tempo tão certo
seguro
contínuo
que sustentava o meu sorriso, a minha cabeça
sobre o meu pescoço
meus braços levemente flutuantes
aonde será que foi aquele tempo?

eu vejo a foto e a foto me diz
saudades

7.07.2016

caderno de sensações 3

esse calor que gruda na minha pele
me faz lembrar do tempo que eu não terei mais

às vezes é tão difícil de respirar

- quando pára de doer?
- nunca pára


será que o amor se mede pela falta de ar? pela dor nas costas? pelo tamanho do espaço vazio, fincado na minha nuca, atrás do meu pescoço?




7.02.2016



o tempo às vezes dói  ........ . ... .. . .. . ..  ... . .  ....  ...... . .   . .. . .      .


...... . . . . .. .. . ... .. . ..  . .      .   .       . .    .     . . como poeira dentro dos olhos

costume

ele trocou de óculos, agora eles são de um plástico que brilha, reluz a luz que encosta neles.
as lentes são um pouco menores, preço bom, feitura rápida. praticidade moderna, contemporânea, desenvolvida, de primeiro mundo.

desde então, parece que não consegue ver muito bem. enquanto caminha, o piso se distancia, ele se mareia, tropeça. precisa parar para respirar e pensa:

é preciso olhar apenas para um ponto, sempre o mesmo ponto, nunca se esqueça. assim, quem sabe, a vista se acostuma.
 
já faz uma semana, a vista não se acostumou. 
mas vê tão mais nítido e, ao mesmo tempo, não vê mais nada.
é a lição do cinema: quanto mais nitidez, menos se enxerga. a potência da visão é a medida inversa do tamanho da nossa alma.

esses dias ele sabe muito bem disso: olhar não significa muita coisa. cada vez mais ele se pega questionando:

"onde está o que eu vejo?"

não sabe mais delimitar espaço, nem tempo, nem começo nem fim. perdeu as referências. será que o que deixou de ver deixou de existir? ou apenas saiu de foco? ele não vê nada, mas se move assim mesmo.

é preciso olhar apenas para um ponto, sempre o mesmo ponto.
quem sabe a vista não se acostuma?

um exercício diário, imposto pelos olhos, pelos óculos, pela globalização, mobilidade, e o capitalismo avançado. precisava trocar de óculos?

"eu tinha tanto amor por aquilo que eu via antes."

deixar de ver é perder o mundo?
agora, ele anda por aí, sem chão, tentando olhar pro mesmo ponto. quem sabe assim não se acostuma?