12.16.2017

caderno de sensações 4

quando neva a noite toda, do lado de fora da janela a paisagem é branca.
o vento sopra a neve aculumada
nos galhos e nos telhados
o corpo quente e seco imagina câmera lenta
e por alguns segundos, a neve feito poeira transforma o ar em fumaça
em algum lugar uma calma fundamental
originária?
é revisitada


11.02.2017

você tem que entender
meu amigo
você tem que entender

às vezes a água é fria mas o banho também
mata a sede

você tem que entender que a distância é longa mas o tempo não passa
você tem que entender

dentro da sua cabeça tem uma faca
sem serra
e na minha um poço
sem água



10.27.2017

a experiência de ser olhado


Hoje eu decidi que vou escrever em português de novo.

Há quanto tempo--anos--que não escrevo um texto inteiro, um pensamento, nesse idioma. Percebi sua ausência.

Mensagens de whatsapp, e-mails curtos, legendas de fotos no instagram.

Hoje vou escrever algo em português--mas por que tudo que eu consigo escrever é só escrever sobre escrever? Terá o português se transformado em meta-linguagem?

Seguimos nessa vida.


9.10.2017

to the memories of good times

to times

9.07.2017

today i was looking at kate millett's photos. the powerful feminist, 1970s, sexual politics, energy energy. she was married to a japanese artist, 1960s to 1980s. she slept with other people. she was bisexual, new york some decades ago must have been disconcertingly wild. i'd like that. financial capital wasn't yet controlling our cells and our thoughts, streets were probably dirtier, brazil was under a violent dictatorship, one could dream of something. no facebook no tinder no start-ups no no no no. afternoon park punk rock neoconcretism weed lsd. young, she looked like so many people i know, ready to take over, power of the body=power of the mind. let's fuck the system. on some pictures she is old, she is old like my grandmother when she was close to die. white head. smiley face. vague gaze. my grandmother, who could barely master any language, grew up in an ethnic community in the interior of rio, domestic life, quiet life, no words, same gesture day in day out. her revolution was nowhere to be seen, but hopefully somewhere to be felt. they both died, the photographs don't lie (they lie all the time), they are like the bodies, they age while they show aging. i can't look at photographs, and any movie makes me cry.

9.01.2017

chorar se parece com ressaca do dia seguinte

8.31.2017


the door out

8.05.2017

como uma luva

can it be hate
just hate
pure

honest and the most sincere
of them

the size of love, fitting perfectly
perfect-fit
high tech
like a glove
cold for summer and hot for winter

hate like a glove of the most pure and tender
love




6.18.2017

você escreve poemas pra quê?


4.10.2017

imaginação

o bom de

ser branco

(deve ser)

nunca imaginar como

deve ser

(ser branco)

2.12.2017

trópicos

um bloco de concreto é um conjunto
ereto
um bloco de concreto assim como uma
lata de lixo
no meio da calçada
chorume no vento
um bloco de concreto no vento
não cai porque
ereto
tem a firmeza de um
conjunto de axiomas
éticos
um bloco assim
de concreto como um prédio
de apartamentos minúsculos, pequenos, abarrotados
tevês panelas esforços frustrados
um bloco de concreto perto do céu azul é um
bloco de concreto que, ereto,
cai pouco
todo dia
mais um pouco
um conjunto de chorume e calçada
um vento quente
uma ética frustrada
a beleza modernista nessa tarde ensolarada
é a beleza
modernista
nessa tarde ensolarada