6.22.2007

qu'est-ce qu'on a parlé?

言葉の関係

このさまよえる者たちは誰か

Quem?

(como brincar com o mundo)
Quando eu falei
"agora sim"
perdi de vista eu ontem e todo o mundo

Voltei andando pra casa:
passado dentro do bolso e um pouco de certezas na ponta da língua

Mas tantas menos grudadas nos meus olhos.

[beleza de verdade são as coisas nos seus lugares
e calma de percebê-las em si]
A cidade calada emociona toda vez que me lembro de mim.

Calei dentro e olhei cada quadrado
sob os passos do sapato na calçada

As janelas acesas
espessas no ar à noite
como olhos enxutos de tanto chorar o passado.

a vida em areia dentro da meia
e conversa silenciosa

pequena garfada do meu sonho de outrora.

6.10.2007



as coisas em si são lagos e reverberações


reverberações


[assim se consegue ir sem chegar]


.

.

.


sumir antes de acabar


e estar no tempo sobre a fina camada que separa


o que é do que é igualmente

Sofrendo de mim, bebi os outros num gole seco.

Enquanto pensava abranger

Sofri dos outros.


O remédio está na própria dor.
Superfície desfolhada


Sob a minha permanência
um soluço no tempo

Todos os antes aderiram
em letras, tintas pretas
e alguns traços marcados no meu rosto

e embaixo dele.

6.01.2007

Sobre um segundo, uma fração de segundo
(rememorações e respiros)


Para toda a sobriedade do mundo, existem frestas entreabertas e pouco iluminadas, que conduzem a uma outra forma de ser. Talvez não outra, mas a mesma, só que com póros conscientes - que respiram o ar puro debaixo da massa cinzenta dos pensamentos circundantes. E através dessas brechas entramos em contato com algo distinto, como um segredo que carregamos: um mundo inteiro tingido com outras cores.

Pois ela era assim. Aparentava. E era o que diziam. Pode-se dizer que, com um pouco de sensibilidade, dava a perceber uma potência bem discreta de ângulo adotado para as coisas. Ângulo obtuso, mas aderido, entusiasmado. Como palavras brotadas do pensamento que se esparramavam pelo ambiente. Extravagâncias de existir.

Esse segredo que carregava (e compartilhava) era impressionante. Escancarava com toda a voracidade as frestas. Borboleteava leve sobre os significados (dava-lhes uma rasteira e os retorcia até a beleza libertadora) e imprimia eu no que era todo mundo. Isso também me falaram. E isso eu também percebi. Como se abrisse as próprias coisas nelas mesmas.

Aí está a chave: as coisas nelas mesmas. A questão não é de razão, mas de olhar. Escoando sobre a superfície das coisas, o furo revela a própria casca. Porque não há hierarquias no que é sempre ser: o outro e eu. O segredo, todos carregam - alguns sabem, outros ainda não. O mundo é sempre tingido com os tons do nosso próprio encanto particular.

Mas tanta voracidade e poesia abriu espaços imensos para todos os tempos e todas as formas. Só não abriu o tempo sobre si mesmo. E nem para si mesma. O tempo é paciente. Derrama lágrimas, mas também acalenta passados no presente - e presentes no futuro: pois tudo é uma coisa só.

Como se interrompida no meio do soluço de maravilhamento, não teve o tempo ralentado de dar o passo para inverter: o todo mundo no eu (o deslocamento do ângulo).

No final das contas, sim, o fez. Todo mundo no nós. E ela em todo mundo. Poesia dura, mas que deixa ensejos de respiração mais compassada.