5.07.2007

As palavras parecem conter sentidos escondidos. Escrevi e o texto já não é meu (o que, de fato, ele nunca foi).

Queria escrever sobre o dia, o que aconteceu ontem, hoje, a grande anedota de tudo. Mas estou ainda quebrando esquemas. E sigo. Não avisto tanto interesse na superfície das coisas (daquelas que são minhas), mas consigo perceber todo o encanto na leveza de tudo. Contradição. Falta de bom senso e primeira pessoa.

Em vez disso, lembro dos velhinhos no boteco da esquina, pé-sujo e velho, enterrado na camada do tempo, buraco na parece que a percepção pula para não se aborrecer num dia bonito de sol como hoje. Lembro deles. Felizes, às 3 horas da madrugada de um sábado frio e meio abandonado (daqueles que você é tão você que quase incomoda). Eles estavam lá dentro, rodopiando (eram uns 4 ou 5), na frente de uma juke box saída de um road-movie americando no meio do Texas. Tocava Creedance, clássico do rock-n-roll mais rock-n-roll no espírito, e eles estavam de olhos fechados, braços rijos, sorrisos nos rostos (claro, muito álcool na cabeça, mas isso é só sinal de sinceridade), dançando a passos espasmáticos, meio quadrados, meio redondos, perdidos no mundo e achados em si mesmos. Estavam em uma alegria de velhos bêbados dançando não-sei-que-lá, felizes à toa. Por alguma razão, essa imagem não me sai da cabeça. Ela foi um piscar na minha retina; eu andava, passei, olhei, sorri, sem nunca parar. Continuei e o bar ficou para trás. Acho que imprimiu. Porque a vida pode ser tão pra fora que me surpreendeu.

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