6.21.2010

José Saramago morreu. Meu pai me contou.
Copa do mundo acontece, do outro lado do globo - aqui, as pessoas dormem, comem e trabalham.

Eu fico acordado toda a noite, esperando o tempo passar dentro da minha cabeça. Do lado de fora, ele consome rápido qualquer vestígio de acontecimento. A vida, de repente, parece caber embrulhada em um papel de bala ou uma pontinha de cigarro.
Meus pensamentos têm tomado o formato de um mapa mundi esquisito, que se estica e se encolhe na mesma velocidade da minha respiração. E, cada vez mais, penso que não preciso do mapa nem do mundo: vontade mesmo é de estar em casa sem ter nada o que pensar. Mas essa condição já não mais é válida, e a escolha já se esvaneceu com os quilômetros que o meu corpo percorreu. Resta-me esperar. Quisera eu não ter feito nada jamais: a angústia talvez fosse de outra estatura. Agora, ela é cheia de espaços recônditos, ensolarada por fora (e por dentro), mas com esses intervalos que me fazem escrever sem saber aonde ir. Melhor então seguir escrevendo. Minhas saudades já cruzaram a fronteira, e a cada vez elas ganham mais personalidade. Quase existem fora de mim. Não quero isso, nem aquilo outro. Não quero abraçar o mundo com a perna, quero apenas a perna como segurança e, quem sabe, às vezes, o mundo como possibilidade. O movimento em si me parece muito mesquinho: nada de encerrar coisa alguma.

De noite. A sensação da espera me acalenta mas também me corrói levemente a calma que me acompanhava até alguns dias atrás. Mas ela sempre retorna ao raiar do dia. Não que seja nada (não se trata de achar que os modelos, horóscopos e melodramas hollywoodianos façam qualquer sentido), mas simplesmente uma agudez do tempo que me deixa tão confuso quanto mais em movimento. É neste momento que as fantasias se embolam, e uma varanda ensolarada, uma planta num vaso, uma rede balançando e um céu azul com algumas nuvens perto do mar parece tão real quanto inalcançável - porque está em algum lugar do meu passado que eu imagino ter vivido. Imagino sorrisos dos amigos, balançar da cabeça da namorada, almoço com família e discussão de irmãos.

Agora já é de manhã, e é preciso descansar. A imaginação flutua sempre: já tomou o avião e já chegou em casa, mais de mil vezes. E isso é que me faz despertar.

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