Eu tenho muitos amigos. Muitos. E eles me formaram e me permitem uma existência compartilhada, relaxada, prazerosa, justificada e completa. Diria: eles me permitem uma existência para além do existir. Desses muitos amigos, há um casal que conheço há uns 8 anos. Quase todo esse tempo eles foram um casal. Eles não estão entre os amigos mais próximos, por contingências dessa vida. Mas por eles eu tenho uma profunda admiração e, definitivamente, eles contribuem para o que eu tenho de otimismo em relação às coisas, de forma muito mais marcante do que eles devem imaginar. Eles são aquilo que talvez represente meu apreço pelos meus amigos, não sei por qual motivo. E eles vão ter um filho.
Essa notícia me pôs em pensamentos compridos, largos e esticados. De um dia para o outro, me empurrou para uma espessura do tempo que eu havia deixado de habitar há algum tempo. Colocou-me em movimento complexo e descontínuo. Deu-me saudades agudas. Entendi, em alguns segundos - ou, talvez, uma noite inteira pensando, todo o tempo ruminando esse entender - que sei por que esse casal de amigos me deixa tão satisfeito e feliz só de vê-los, por que me refletem o meu próprio apreço pela amizade. Pode ser mesmo só assim de longe, acompanhando os movimentos, gestos e sorrisos: porque eles são uma revelação boa e saudável do tempo; temporalidade essa que nos é tão inescapável quanto essencial, afinal, de fato, somos por ela, nela e a partir dela. Mas que, no entanto, podemos mexer, esticar, e montar formas distintas e fazê-la grudar ao que quer que seja. Podemos escolher narrar, ouvir, observar ou experimentar. Sendo que todas estas quatro maneiras de nos relacionar com o tempo são essenciais e quase obrigatórias. E, por algum motivo que ainda não entendi, são esses dois os que, até hoje, me fazem entender isso.
Sortuda vai ser essa criança!! Parabéns e beijos gordos!!!
3 comments:
acho que eles fazem todos nós acreditarem nessa tal coisa maior.
*acreditarmos
disseste tudo, japa.
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