4.21.2010



Passou as mãos pelos cabelos, tocou a testa. Sentiu a pele seca, quebradiça. Agarrou a xícara de café, entornou um pouco por sobre o dedo e despejou na sua boca. O líquido quente queimou a ponta da sua língua. Faltava açúcar. Acedeu um cigarro e inspirou calmamente a fumaça. Abriu o livro e, na segunda linha, entendiou-se. O cigarro, depositado entre os seus dedos, colocou-o sobre o cinzeiro. Esperava, sem muito objetivo. Sentia-se tão contido e retraído; era puro silêncio. Ao seu redor, desconhecidos comiam com pressa, liam jornal. Alguns conversavam em voz baixa, cotidianidades à toa. Estava como que flutuando sobre a massa disforme que nada lhe comunicava. Um gesto, um gesto. Deu mais um trago. Retorcia a cabeça, dava voltas com os pulsos, arranhava levemente o tecido do seu casaco. Perdido na sua mais perene ausência. Todo o drama está no gesto.

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