7.19.2012



Há dois anos atrás, algo estava pra acontecer daqui a um segundo. O homem, montado em sua bicicleta, gostava do sol sobre sua pele. A mulher, atrás dele, pensava que o mundo ganhava muito mais sentido por ela ter pernas e poder sentir o vento empurrar seus cabelos para trás enquanto pedalava. Uma curva à esquerda, outra à direita, seguir adiante. Assim, acontecendo no desacontecer, como desfiando fios que se movimentam como dizendo: "me puxe para perto do seu futuro". As palavras, no entanto, mantêm-se suspensas no ar, e o futuro tem a concretude de uma rocha macia.

Como é bom escutar o barulho do silêncio arranhado pelas correntes das bicicletas. Do outro lado - não sabia já sabendo - o silêncio ocupa espaço, compete com os vácuos do nosso pensamento. O sol já está por se pôr, há dois anos atrás, como sempre estará. Desde que amanheceu, eu tirei essa foto e guardei escondida no meu computador, reservada para quando despedidas fossem necessárias. Reservada para quantas despedidas fossem necessárias.

Nesse não-lugar do impensado, estou sempre em casa, um segundo depois do momento ápice do conforto. Parado, paradinho, esperando a hora de me mover. O vento existe somente na medida da minha imaginação. Na foto, fora do quadro, eu espero para sempre o momento de me mexer, de sair da frente. Enquanto isso, me esquento no sol daquele fim de tarde, na eterna imaginação do porvir, que me deixa acolhido todo no presente que só sabe se despedir.




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