Nada pra escrever, mas vontade de falar.
Hoje, durante todo o dia, falei só por 14 minutos. Contados. Ao telefone e em espanhol. Ainda bem que existe a internet. Assim posso soltar uma palavras para o interlocutor imaginário. Absorto que estava em trabalhos e afazeres, não digo que cheguei a me dar conta do meu silêncio. Ouvi música, escrevi, li. As palavras nunca deixam de ecoar. Chegando à noite, no entanto, quis expeli-las. Falei sozinho, testei minha voz. De fato, outros ouvidos são necessários. Em português, de preferência. Senti o peso do pensamento. Ele tem o peso do meu corpo com o da comida que ficou na geladeira pra refeição de amanhã.
Não reclamo. Não produzo tragédias auto-piedosas (não mais). Acho bom perceber que, preso dentro das palavras não proferidas, meu pensamento se torna tão volumoso que se perde em si mesmo: perco o sentido. Isso me traz algum contentamento estranho, como se tivesse mais certeza do que sempre intuí. É necessário cultivar a boa comunicação, aquela tão rara quanto preciosa. Essa eu já possuo. Ainda que, por ora, meio distante fisicamente.
10.25.2009
10.14.2009
Essa imagem foi roubada da internet. Não sei quem tirou. Tenho aqui no meu computador há uns meses já. Praia de Icaraí, numa tarde de um dia de semana qualquer.
É impressionante, mas olho pra ela e quase acredito que ela seja o que representa. No passar do tempo, aqui, tão distante do que ela retrata, ela, de fato, passou a quase ser aquilo que pretende representar. Minha memória se faz presente em imagens e sons. Assim ela se reaviva. E, muito mais, ela se faz presente nas minhas saudades, que oscilam em momentos, dias, semanas. Tendo a pensar que não sinto mais a falta física que sentia: já estou aqui e meu corpo aprendeu isso com os meses. Ele não grita mais: "não sou daqui". Tenho uma vida, hábitos, pensamentos. Meus sonhos já se mudaram, acompanham agora o corpo. O português me acompanha, quase exclusivamente no meu pensamento, que, durante o dia, se torna confuso com os idiomas, nasce sempre em português, mas no caminho toma a forma do inglês, do japonês, do espanhol, do francês. Cansa-se e, às vezes, quer apenas não ser. A língua se tornou tão notória que parece que precisa fugir de qualquer uma. Não ser mais pensamento. Mas, no entanto, se refestela quando reencontra o português, lendo o jornal, um romance ou falando na internet. Orgulha-se de existir e de ainda ser tão pregnante em mim.
Não sinto falta, portanto. Cheguei ao presente. Este presente que se faz existir sempre a partir (sim, é ponto primordial) das minhas saudades. É como se estivesse num paradoxo estranho: não acredito que necessariamente deva não estar aqui, ou estar aí, dentro da imagem. Mas a saudade já é necessária, concede alguma coisa que subjaz o tempo inteiro. A saudade já sou eu, de uma certa maneira. Aqui, necessito dela.
Hoje senti bastante saudade. E resolvi escrevê-la.
10.08.2009
Não porque me secaram as palavras. Nem porque me sequei delas. Mas porque às vezes elas já estavam tão bem encadeadas que se torna inútil repeti-las tantas vezes, tentando tomar um caminho diferente.
A minha vida parece uma montanha-russa meio tortuosa, mas cujas curvas radicais acalantam inúmeros espaços minúsculos (junções deles) que resultam em uma calmaria tão harmoniosa que já ofuscam o turbilhão. Não é verdade que cada curva é feita por momentos que podem se prolongar ao infinito? Lições que Borges nos deu.
Aqui, reflito essa curva imensa que é pura calmaria. Há pouco mais de um ano atrás, em 06 de julho de 2008, tudo parecia tão diferente do que é hoje, mas permaneço, sem dúvida, nessa mesma curva tortuosa:
"Espero aqui, sentado, balançando as pernas, o tempo se pronunciar. Ele nunca diz nada, mas deixa suas pistas delicadamente, utilizando-se de si mesmo para enganar-nos.
Malandro de outrora, no entanto, ele já não consegue me enganar tanto assim. Foco minha vista já cansada da espera e, juntando-me à sua eterna brincadeira de esconde-esconde, instalo-me no seu trabalho e, no esforço de imaginar a sensação do invisível, consigo degustar cada aceno que me dá. Conseguimos então, assim, selar a amizade que, ao mesmo tempo, provoca o escárnio e o imenso respeito que cultivo."
Sigo no meu exercício (o meu artifício mais bem trabalhado)...
A minha vida parece uma montanha-russa meio tortuosa, mas cujas curvas radicais acalantam inúmeros espaços minúsculos (junções deles) que resultam em uma calmaria tão harmoniosa que já ofuscam o turbilhão. Não é verdade que cada curva é feita por momentos que podem se prolongar ao infinito? Lições que Borges nos deu.
Aqui, reflito essa curva imensa que é pura calmaria. Há pouco mais de um ano atrás, em 06 de julho de 2008, tudo parecia tão diferente do que é hoje, mas permaneço, sem dúvida, nessa mesma curva tortuosa:
"Espero aqui, sentado, balançando as pernas, o tempo se pronunciar. Ele nunca diz nada, mas deixa suas pistas delicadamente, utilizando-se de si mesmo para enganar-nos.
Malandro de outrora, no entanto, ele já não consegue me enganar tanto assim. Foco minha vista já cansada da espera e, juntando-me à sua eterna brincadeira de esconde-esconde, instalo-me no seu trabalho e, no esforço de imaginar a sensação do invisível, consigo degustar cada aceno que me dá. Conseguimos então, assim, selar a amizade que, ao mesmo tempo, provoca o escárnio e o imenso respeito que cultivo."
Sigo no meu exercício (o meu artifício mais bem trabalhado)...
10.04.2009
Em palavras mais simples:
conviver com a "intelectualidade" internacional me mostrou de forma brutal a urgência do pensamento brasileiro, latino-americano, que seja.
Não pelo fato de ser geográfico, mas pelo mais pungente fato de assim ser tão marcadamente percebido. Desfazer o geografismo a partir da sua adoção primeira. Por mais paradoxal que seja, mas algo como estratégias distintas ainda que num mesmo regime.
É como Deleuze percebeu, "não se sai de um dispositivo", mas é nele que está a sua própria superação.
(precisava escrever assim, de forma meio grosseira)
conviver com a "intelectualidade" internacional me mostrou de forma brutal a urgência do pensamento brasileiro, latino-americano, que seja.
Não pelo fato de ser geográfico, mas pelo mais pungente fato de assim ser tão marcadamente percebido. Desfazer o geografismo a partir da sua adoção primeira. Por mais paradoxal que seja, mas algo como estratégias distintas ainda que num mesmo regime.
É como Deleuze percebeu, "não se sai de um dispositivo", mas é nele que está a sua própria superação.
(precisava escrever assim, de forma meio grosseira)
Chão
É estranho pensar isso, e mais estranho escrever ou dizer. Mas é como se estivesse alguma coisa por aí, a ser pensada, discutida, esmiuçada aí. Como se o pensamento tivesse aí a sua função, o seu fim. Não digo que seja utilitário o pensamento, mas ele põe algo a mover, retira a estabilidade, arranca as coisas do seu terreno estúpido da certeza. Pensamento como ação - não a "pró-ativa" atividade de fazer aparecer algo no âmbito do concreto, de fazer ir à frente em uma corrida tão mais abstrata quanto mais parece existente em números ou em dados. Mas uma ação que resulte em algumas inversões e que trate do óbvio com o espanto do novo - e sempre nesse caminho. Não exaltar o novo de forma vulgar e leviana, a novidade não é aparição, mas desvelamento.
Esse pensamento, estranhamente, me parece ter chão. Não me parece válido por qualquer motivo, nem por qualquer razão - a razão não o ilumina em qualquer seara, não o valida por qualquer joguete de lógica intrincada. Ele urge a partir de onde pode infiltrar-se, pungir e fazer pensar igual (ou distinto). Ele viaja a partir de um ponto: esse há de ser seguro e, de certa forma, percebido de antemão. Como se estivesse comprometido desde o seu (meu) nascimento. E por isso decidi tão fortemente pelo pensar, por ser desde um lugar, que não é assim, tão geográfico e tão calculável, mas uma situação, uma conjuntura, um devir específico que a mim me toca e que, por ser assim, tão de dentro compreendido por mim, é daí que devo saltar, e daí que devo pescar o óbvio e fazê-lo pensar. Nunca achei que fosse dizer isso, mas meu pensar é mais pensar quando estou no meu lugar.
É estranho pensar isso, e mais estranho escrever ou dizer. Mas é como se estivesse alguma coisa por aí, a ser pensada, discutida, esmiuçada aí. Como se o pensamento tivesse aí a sua função, o seu fim. Não digo que seja utilitário o pensamento, mas ele põe algo a mover, retira a estabilidade, arranca as coisas do seu terreno estúpido da certeza. Pensamento como ação - não a "pró-ativa" atividade de fazer aparecer algo no âmbito do concreto, de fazer ir à frente em uma corrida tão mais abstrata quanto mais parece existente em números ou em dados. Mas uma ação que resulte em algumas inversões e que trate do óbvio com o espanto do novo - e sempre nesse caminho. Não exaltar o novo de forma vulgar e leviana, a novidade não é aparição, mas desvelamento.
Esse pensamento, estranhamente, me parece ter chão. Não me parece válido por qualquer motivo, nem por qualquer razão - a razão não o ilumina em qualquer seara, não o valida por qualquer joguete de lógica intrincada. Ele urge a partir de onde pode infiltrar-se, pungir e fazer pensar igual (ou distinto). Ele viaja a partir de um ponto: esse há de ser seguro e, de certa forma, percebido de antemão. Como se estivesse comprometido desde o seu (meu) nascimento. E por isso decidi tão fortemente pelo pensar, por ser desde um lugar, que não é assim, tão geográfico e tão calculável, mas uma situação, uma conjuntura, um devir específico que a mim me toca e que, por ser assim, tão de dentro compreendido por mim, é daí que devo saltar, e daí que devo pescar o óbvio e fazê-lo pensar. Nunca achei que fosse dizer isso, mas meu pensar é mais pensar quando estou no meu lugar.