Na mesma tecla
Todos já devem estar cansados de ouvir:
"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."
(Emergência, Mario Quintana)
7.29.2008
Tempo tempo
tanto tempo
lambendo as quinas das mesas
sorvendo as gotas nos copos
rasgando aos roupas esticadas no varal
tanto tempo
abraça meu corpo engole quase tudo
me perco
brincando de esquecer o seu domínio.
Deleitado, exibe o rosto retorcido
sorrisos estridentes mostrando aqueles dentes amarelos
corroídos
constrói seu edifício
inteiro
sobre minha ingenuidade acalentada com destreza.
Austero é ele que me impregna de tristeza
gabando-se da sua suprema existência:
"Sou poesia, intesidade e profunda beleza"
Esgotando noites a fio
desfilando meu próprio desespero
escancara meus espaços recônditos
escondidos
percebe o apagado
recoloca em mim o trágico que enterrei há muito tempo
debaixo do meu travesseiro.
Hoje engoliu meus pensamentos.
Digere pouco a pouco
enquanto suspira balançando as folhas das árvores
que vejo da minha janela.
tanto tempo
lambendo as quinas das mesas
sorvendo as gotas nos copos
rasgando aos roupas esticadas no varal
tanto tempo
abraça meu corpo engole quase tudo
me perco
brincando de esquecer o seu domínio.
Deleitado, exibe o rosto retorcido
sorrisos estridentes mostrando aqueles dentes amarelos
corroídos
constrói seu edifício
inteiro
sobre minha ingenuidade acalentada com destreza.
Austero é ele que me impregna de tristeza
gabando-se da sua suprema existência:
"Sou poesia, intesidade e profunda beleza"
Esgotando noites a fio
desfilando meu próprio desespero
escancara meus espaços recônditos
escondidos
percebe o apagado
recoloca em mim o trágico que enterrei há muito tempo
debaixo do meu travesseiro.
Hoje engoliu meus pensamentos.
Digere pouco a pouco
enquanto suspira balançando as folhas das árvores
que vejo da minha janela.
7.03.2008
"Como escrever senão sobre aquilo que não se sabe ou que se sabe mal? É necessariamente neste ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro.
[...]
Suprir a ignorância é transferir a escrita para depois, ou melhor, torná-la impossível"
(DELEUZE, em Diferença e Repetição, num dos prólogos mais bonitos de se ler)
Deixo então a pergunta que me faz desesperar e acalmar, em tempos distintos e, muitas vezes, ao mesmo tempo:
Qual o tamanho do erro dos experts, talentosos e prodigiosos?
Escolher o lado da ignorância é mais prudente (e mais potente), mas talvez também mais solitário (e um interlocutor não deixa de ser o que possibilita o meu falar).
[...]
Suprir a ignorância é transferir a escrita para depois, ou melhor, torná-la impossível"
(DELEUZE, em Diferença e Repetição, num dos prólogos mais bonitos de se ler)
Deixo então a pergunta que me faz desesperar e acalmar, em tempos distintos e, muitas vezes, ao mesmo tempo:
Qual o tamanho do erro dos experts, talentosos e prodigiosos?
Escolher o lado da ignorância é mais prudente (e mais potente), mas talvez também mais solitário (e um interlocutor não deixa de ser o que possibilita o meu falar).