O quarto era cheio de tristeza, mas a janela era ampla e deixava o sol entrar. O ar era muito frio, queimava meus pulmões a cada respiro, mas eu ficava parado, quieto, respiração mínima, corpo estático dentro daquela luz. Fechando os olhos minhas pálpebras aqueciam, a alma dava um descanso. É importante, de vez em quando, tocar a atmosfera com os olhos fechados. Como eu poderia, àquele ponto, entrar naquele espaço tão triste? A vida é difícil pra todo mundo, murmurava pra mim mesmo. Será que é possível fazer silêncio em português? Eram tijolos vermelhos, parede amarela, cama ampla, lençóis usados, calçada de cimento cinza, cheiro de gordura no couro cabeludo, fios elétricos sobre a cabeça, uma viscosidade eterna, sem fim, a cidade era uma coisa só comigo, e eu, nada. E lá no alto o céu azul. Azul azul azul... falar até perder o sentido. Falar muito, ou falar nada, virar negativo, negativizar até acabar...
A delicadeza... que saudades da suficiência da sua beleza. Mas a tristeza é tão mais bonita, atraente, porque ela habita o tempo com elegância, afunda na extensão dos minutos, não acredita em mais nada.
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