11.10.2013
morte pelas mãos
todo dia, eu como um pouco do meu dedo. umas mordidas nervosas, milímetros ínfimos a cada vez, ao redor das unhas, que vão se aproximando das bordas que separam essa parte do meu corpo do ar que o envolve. eu engulo a mim mesmo, pouco a pouco, e o que era dedo vira merda, e eu me excreto assim, todo dia de noite, ou de manhã depois do café. eu diminuo pelas pontas. é um pouco uma estratégia de sobrevivência, dizem obliteração: eu chamo deglutição. não que eu queira me destruir, mas é como deixar um pouco pra trás, incluir um pouquinho de morte nas pontas das minhas mãos, que encostam em tudo que me faz viver, tudo que me mantém encravado no futuro. fazendo desaparecer, aos poucos, o meu corpo pelas extremidades, eu faço uma homenagem ao passado, que fica escancarado debaixo do meu nariz: aqui você não é mais o que era. agora eu olho, e essas digitais arruinadas, essa carne corroída, e eu acho bonito. é quase como as infinitas saudades que eu sinto, minhas mortes, inúmeras, empilhadas dentro de mim, fazendo um buraco naquilo que eu vejo quando me concentro. meu luto diário, essa tristeza que eu sinto, desse tempo perdido.
No comments:
Post a Comment