2.08.2006

Despir-se

Sem pensar antes e depois. Simplesmente a pura sincronicidade das sensações. Os dois olhares, que se transformam em três e viram um. Emocionar-se sinceramente com um movimento e um som, uma palavra, uma cor e um rabisco qualquer. Às vezes esquecer padrões, referências e o auto-policiamento da inteligência-mor dos livros e dos autores e dos críticos e dos estudiosos e dos filósofos e dos intelectuais e dos acadêmicos e dos e dos e dos. Uma luz igual a de todos os dias, que não possui profundidade nem nada, apenas luz, amarela sobre os objetos, como todas, mas que ficou bonita no registro mental. A combinação perfeita de notas, perfeita por não ser teorizável, não se transformar em ensaio, não se relacionar com o sócio, nem com o político, nem com nada mais. A seqüência de imagens que não diz muita coisa, mas preenche um certo espaço quase esquecido em algum lugar de alguém. O silêncio mais ensurdecedor, vazio e sem significado, mas completo. Completo porque você quis, porque assim lhe pareceu, porque assim se tornou depois que lhe chegou. Perfeito pra mim, pra você e pra alguns. Pra outros não. Porque não é. Aprofundamentos da alma sem passar pelo racional. Uma boa música, segundos de observação, andar de bicicleta com o vento batendo no rosto, ver o sol encostando no asfalto e sentir que as coisas são. Como viver o presente sem notas de rodapé e sem referências bibliográficas no final do dia.

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