2.28.2006

"O essencial eh a contigencia. O que quero dizer eh que, por definicao, a existencia nao eh a necessidade. Exisitir eh simplesmente estar aqui; os entes aparecem, deixam que os encontremos, mas nunca podemos deduzi-los. Creio que ha pessoas que compreenderam isso. So que tentaram superar essa contingencia inventando um ser necessario e causa de si proprio. Ora, nenhum ser necessario pode explicar a existencia: a contingencia nao eh uma ilusao, uma aparencia que se pode dissipar; eh o absoluto, por conseguinte, a gratuidade perfeita. Tudo eh gratuito: esse jardim, essa cidade e eu proprio." (Sartre, A Nausea)

Pois entao. Londres eh muito foda mesmo. Mas ta dentro do resto das coisas. Eh um lugar realmente surpreendente. Mas, `a medida que o tempo passa - e que fique claro que isso nao eh critica nem nada negativo, porque ainda estou gostando e me surpreendendo muito com as coisas - fica claro que coisas sao coisas, e embaixo das milhoes de camadas que se sobrepoem a cada uma delas, elas sao coisas. Cadeira, parque, rua, meio-fio, pessoas, roupas, computador, loja, vendedor, pessoas, pessoas, pessoas. As pessoas, essas podem ser muito surpreendentes ate voce conversar com elas. Porque elas sao pessoas e ser humano eh uma especie realmente universal. Todas na mesma funcao de sempre, em qualquer lugar do mundo.

2.08.2006

Despir-se

Sem pensar antes e depois. Simplesmente a pura sincronicidade das sensações. Os dois olhares, que se transformam em três e viram um. Emocionar-se sinceramente com um movimento e um som, uma palavra, uma cor e um rabisco qualquer. Às vezes esquecer padrões, referências e o auto-policiamento da inteligência-mor dos livros e dos autores e dos críticos e dos estudiosos e dos filósofos e dos intelectuais e dos acadêmicos e dos e dos e dos. Uma luz igual a de todos os dias, que não possui profundidade nem nada, apenas luz, amarela sobre os objetos, como todas, mas que ficou bonita no registro mental. A combinação perfeita de notas, perfeita por não ser teorizável, não se transformar em ensaio, não se relacionar com o sócio, nem com o político, nem com nada mais. A seqüência de imagens que não diz muita coisa, mas preenche um certo espaço quase esquecido em algum lugar de alguém. O silêncio mais ensurdecedor, vazio e sem significado, mas completo. Completo porque você quis, porque assim lhe pareceu, porque assim se tornou depois que lhe chegou. Perfeito pra mim, pra você e pra alguns. Pra outros não. Porque não é. Aprofundamentos da alma sem passar pelo racional. Uma boa música, segundos de observação, andar de bicicleta com o vento batendo no rosto, ver o sol encostando no asfalto e sentir que as coisas são. Como viver o presente sem notas de rodapé e sem referências bibliográficas no final do dia.

2.01.2006

Bombom de todo dia

Parei o dia
tirei a foto
perdi todo o resto
pensando em não esquecer

Esqueci o gosto
e o não-gosto
não gostar é suficiente para se formar a personalidade?

A enternidade me abafou como um saco plástico
Fiz um furo
Talvez a luz do dia me baste
para tudo o que eu preciso.

Preciso ficar são

de vez em quando
e no que sobra
pensar em nada nunca deixa de ser bom.

Bom se fosse a vida minha que eu levo.
E não o passado do mundo todo que carrego
encaixotado nas minhas memórias.

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