1.27.2005

Hoje talvez

Sobre tudo que me comove
poesia torta que se encolhe com a chuva
brota do céu ensolarado
do janeiro destes outros tempos

Areia de praia dourada
fecho em pouco tempo
pensamentos inconclusos
afogados na água azul das minhas idéias
profundas celestes
apreendo pouco do agora
jogando ao futuro quase tudo que me enforca

Perco suor mas nunca respiração.

1.15.2005

Consciência

A janela suspirava atonitamente, chamando-o a pousar-se sobre ela e apreciar a melancolia mundana que se escorria por debaixo do seu nariz. O velho que andava na calçada, equilibrando-se na beirada do meio-fio, parecia suspeitar do desenho estranho e belo que compunha junto com os carros, o asfalto, o cinza e o barulho. Olhava rápidos olhares na direção das pessoas, como se buscasse confirmação da sua beleza efêmera. Poesia eterna que está presa em cada segundo.

Pôs-se a olhar a vista. Esperava que algo extraordinário o arrebatasse a qualquer canto do seu pensamento, onde estivesse longe de tudo aquilo que o perturbava. Mas a realidade estava mais na perturbação do que no suco que o esperava na geladeira. Muito mais. A tristeza é sempre muito mais concreta do que a felicidade. E a poesia vinha como um pote de sangue entornado pra dentro de sua cabeça. Não conseguia respirar. Sentia uma incômoda liberdade, que preenchia seus póros a ponto de espremer lágrimas para fora do seu olho. Perdia-se em meio a tantas coisas que lhe surgiam a um só momento. O mundo podia ser tão disponível, que lhe causava vertigens. A beleza triste de uma palavra engasgada pela noção absoluta da impossibilidade. Engasgada de tanta vontade.


(final em homenagem à Shady Lane)

1.13.2005

"I wanna ra(n)ge life..."

Dando passos sobre um chão invisível. O vento que vinha debaixo poderia fazê-lo voar para tão alto que perderia de vista as coisas reais.

Um alívio tão grande que sentia: poder se perder seria, de fato, a opção mais sensata naquele momento. Sentir um pouco do escuro e do claro talvez lhe desse precisamente o que necessitava.

Ar fresco. Luz pura. Um pouco de gelo no copo e alguns cigarros apagados. Percepção colorida de um mundo sem cores. Mas, ainda assim, com algum brilho. Pronto para um novo passeio.

1.11.2005

Encantamento

Ao pé da porta
pés descalços sobre o cimento quente
Esfria pensamentos com pequenos
sorrisos desmanchados
Perde o foco
sob a luz fria
na noite que sufoca
os meus respiros apressados

Corpo que afrouxa laços.