Carnaval
Cidade e pessoa
fundidos na imagem.
Carnaval e cinema
fundidos na possibilidade.
2.26.2009
Quarta cinzenta
Primerias despedidas.
Carnaval: como não sei quando acontece de novo (pra mim), achei que devia deixar registrado que o carnaval no Rio é sempre muito bom... cativa assim que começa...
Sempre reclamo uma semana antes, e sinto falta uma depois.
Todos do mundo deveriam passar por uma experiência aproximada. E uma cidade devia sempre poder ser outra, nem que seja por alguns dias, como acontece aqui.
Como uma intervenção coletiva, sem utilitarismo e ideologia: a mais pura reocupação estética dos espaços.
Primerias despedidas.
Carnaval: como não sei quando acontece de novo (pra mim), achei que devia deixar registrado que o carnaval no Rio é sempre muito bom... cativa assim que começa...
Sempre reclamo uma semana antes, e sinto falta uma depois.
Todos do mundo deveriam passar por uma experiência aproximada. E uma cidade devia sempre poder ser outra, nem que seja por alguns dias, como acontece aqui.
Como uma intervenção coletiva, sem utilitarismo e ideologia: a mais pura reocupação estética dos espaços.
2.11.2009
2.04.2009
Sobre melancolia e escrita
Mais uma vez, roubando ímpeto de outros lugares.
Pois disse ele - ou deixou implícito - que para se escrever é necessária a melancolia. De onde vem a melancolia?, perguntaria-lhe. Do espaço, do tempo, ou de uma transcendência? Do mesmo lugar de onde vem a escrita?
Enquanto trabalho na tese, percebo que podemos montar a melancolia. Assim, talvez, questionasse-lhe: "ela não pode vir de um palco?". A performance da escrita é a mesma performance da melancolia. Assim como a da alegria, talvez. Performance, que, obviamente, não é menos nem mais imanente que qualquer outra coisa - porque não é menos nem mais verdadeira.
E, quem sabe, não esteja aí a grande chave da escrita. Pode-se performar o real, o falso e todos os pathos de uma só vez.
Num quarto de hotel, em Itajubinha do Norte, certa vez, estive escrevendo sobre o inverno de Paris de 1946, pouco após o fim dos bombardeios. Disse como andavam felizes as moças, com seus chapéus alongados e seus lenços cobrindo o nariz quando passavam pelo mal-cheiro do esgoto ainda a ser refeito. Na grande alegria que me tomava naquele verão na pequena cidade litorânea baiana, consegui ser melancólico como um ex-combatente de guerra sentado num café, olhando o capitalismo emergente na Tóquio de 1967.
A minha melancolia, no entanto, me propôs uma viagem de verão à beira do mar de Honolulu, quando estava sozinho sobre a terra evacuada do campo de refugiados em Kosovo, lá pelos idos da década de 1990. Não como um remédio ao presente - nem como uma fuga - talvez como possibilidade de escrita mesmo. Presente da linguagem. Assim, enquanto catava os restos da minha casa, consegui descrever com precisão o frescor do coco que sorvia a pequenos goles sentado na beira da piscina no Copacabana Palace.
Posso também estar melancólico e efusivo, ao mesmo tempo. Talvez essa seja a maior felicidade. Nesses dias, escrevo um haicai para subtrair-me do mundo. Esse aqui, escrevi por volta do século XVII, imaginando ser Matsuô Bashô:
ossos desgastados
em minha mente
um corpo perfurado pelo vento
Não uma descrição do mundo, nem a mim mesmo - já sabemos que esse é um privilégio que nem a fotografia alcançou. Talvez a escrita seja essa possibilidade de exterioridade. (tudo culpa da minha tese...)
Mais uma vez, roubando ímpeto de outros lugares.
Pois disse ele - ou deixou implícito - que para se escrever é necessária a melancolia. De onde vem a melancolia?, perguntaria-lhe. Do espaço, do tempo, ou de uma transcendência? Do mesmo lugar de onde vem a escrita?
Enquanto trabalho na tese, percebo que podemos montar a melancolia. Assim, talvez, questionasse-lhe: "ela não pode vir de um palco?". A performance da escrita é a mesma performance da melancolia. Assim como a da alegria, talvez. Performance, que, obviamente, não é menos nem mais imanente que qualquer outra coisa - porque não é menos nem mais verdadeira.
E, quem sabe, não esteja aí a grande chave da escrita. Pode-se performar o real, o falso e todos os pathos de uma só vez.
Num quarto de hotel, em Itajubinha do Norte, certa vez, estive escrevendo sobre o inverno de Paris de 1946, pouco após o fim dos bombardeios. Disse como andavam felizes as moças, com seus chapéus alongados e seus lenços cobrindo o nariz quando passavam pelo mal-cheiro do esgoto ainda a ser refeito. Na grande alegria que me tomava naquele verão na pequena cidade litorânea baiana, consegui ser melancólico como um ex-combatente de guerra sentado num café, olhando o capitalismo emergente na Tóquio de 1967.
A minha melancolia, no entanto, me propôs uma viagem de verão à beira do mar de Honolulu, quando estava sozinho sobre a terra evacuada do campo de refugiados em Kosovo, lá pelos idos da década de 1990. Não como um remédio ao presente - nem como uma fuga - talvez como possibilidade de escrita mesmo. Presente da linguagem. Assim, enquanto catava os restos da minha casa, consegui descrever com precisão o frescor do coco que sorvia a pequenos goles sentado na beira da piscina no Copacabana Palace.
Posso também estar melancólico e efusivo, ao mesmo tempo. Talvez essa seja a maior felicidade. Nesses dias, escrevo um haicai para subtrair-me do mundo. Esse aqui, escrevi por volta do século XVII, imaginando ser Matsuô Bashô:
ossos desgastados
em minha mente
um corpo perfurado pelo vento
Não uma descrição do mundo, nem a mim mesmo - já sabemos que esse é um privilégio que nem a fotografia alcançou. Talvez a escrita seja essa possibilidade de exterioridade. (tudo culpa da minha tese...)