9.15.2008

Leitor diz:
"eu não te escuto".

Eu respondo:
"tudo bem. Não falo pra você".
Vôo
não como os outros

Saudades lá de casa
espalhada pela(s) cidade(s)
[as duas]

Vôo sobre a Baía
escuto pelo telefone
a paisagem


*****

Na foto, escuto cada timbre de cada voz. As terminações de frases, entonações. Beira da praia, sol na cabeça. Uma imaginação torpe: como se sobre o mar, no caminho de areia, uma porção do mundo que inventaríamos estivesse apenas esperando a nossa inspiração. Hoje, um pouco de calmaria, agora tornada silêncio. Ainda torpes, algumas palavras, imprensadas entre sorrisos estonteantes, respirações pesadas, exuberâncias e ainda a inspiração - essa agora uma regra básica. No ar, como um corte no espaço, uma rachadura e muita profundidade - profundidade de vácuo, de pedra úmida e escorregadia, cheiro de mato e barulho de trem. Esta rachadura, ela também, imprensada. A alegria ocupando aos poucos todas as brechas: não sabemos dizer se é vazio de pensamentos ou um redemoinho de muitos sobrepostos uns aos outros. Olhamos ao lado, comemos, rimos e gritamos. Debaixo do chuveiro, sozinho, volto aos poucos ao tecido fino do cotidiano.

Habito a brecha. Se a vejo, talvez esteja ela em mim. A pedra úmida, lapidada com tanto cuidado, perdeu aos poucos o espaço para o espetáculo da alegria. Pois bem, continuamos aqui, não rimos, mas entrevemos as brechas, espalhadas pelos espaços, jogadas ao ar e pisadas pelos passos da dança alegre no meio da pista. Catamos, uma a uma: em algum momento, elas se refazem a dão um telefonema, ou mandam um e-mail.

9.11.2008

De vez em quando, em dias cansados
a ausência do céu é maior do que sua presença.
"Caminhava na presença do céu"