8.26.2008

Deslizar na superfície das palavras
e das imagens

Não deslizar ao longo
mas como para dentro de um buraco
que perfura os espaços entre uma e outra


Só-ver
Sorver
Na diferença entre um passo e outro

Nunca estar no mesmo lugar.

8.01.2008

Ficar e trabalhar em casa porporciona estímulos muito diversos: sono, curiosidade (ler coisas, internet e buscas inúteis sem fim), vontade de escrever e percepção aguçada das variações climáticas. Quase tudo isso de dentro do quarto. De vez em quando, um certo ímpeto a somente pensar: e ficar assim, pensando, sem muito objetivo. Então fico tentando pescar alguma coisa de invisível por detrás das coisas. Mas isso é o ápice da inutilidade. Quando chego a esse estágio, troco de roupa, coloco um chinelo (a variação climática dos últimos dias me permite o agradável hábito carioca do chinelo), e saio para dar uma volta.

Procuro um café perfeito: poucas pessoas, alguma luz do sol, alguma sombra, nada de movimentação consumista excessiva na minha frente, boas opções (sucos, cafés, capuccinos e refrigerantes já bastam), mesas amplas, cadeiras confortáveis, um cinzeiro prontamente entregue por um garçom solícito. Precisa também ser algo fora do habitual (só quem trabalha em casa talvez saiba como ir ao mesmo lugar pode se tornar quase uma sina), ao mesmo tempo nem tão distante do meu hábito assim (por exemplo, não posso ter um grande deslocamento: ainda se trata de um passeio rápido, frugal e descompromissado). Com todas essas considerações, definitivamente o passeio não consegue ser um relaxamento tão intenso quanto imagino.

Retorno pra casa depois de um café, um guaraná, dois cigarrinhos, e me deparo com o computador. Minha flanêurie virtual sempre precede a escrita. Invariavelmente, no entanto, retorno também às mesmas páginas, sem muita coragem de ousar. Fico frustrado, porque, incrivelmente, de um dia para o outro, nem tanta coisa mudou no mundo virtual (digo: páginas de fotos, vídeos e coisas literárias). Hoje, no entanto, retornei a um lugar que via com certa cautela há dois anos (intocado há todo esse tempo) e parei, espontaneamente, para ler as palavras e escutar suas vozes. Aquelas palavras e a sua grande estrutura de melancolia (das palavras escritas e de toda a conjuntura daquela escrita, tão caótica quanto límpida) foram, pela primeira vez, sinônimos de proximidade e um falar muito sincero de tão compulsivo. Estabeleci uma relação de escuta aberta lendo aqueles textos, como uma experiência temporal subversiva, consegui entender muita coisa e lamentar mais ainda outras.

Olhei pro sol de novo e cá estava eu a, mais uma vez, buscar o invisível por detrás das coisas. Sem inutilidade no entanto (essa palavra que existe por conta unicamente da culpa contida em cada um de nós), deleitei-me com o céu em tom pastel, o ar fresco, e aquelas palavras que conduzem para o abismo da literatura que não se pode repetir, nem se recuperar. Fiquei parado diante do que já ali estava, agora voltando a compreender que nem tudo precisa ser comunicável, às vezes, basta existir (ou ter existido) que já está valendo.