8.28.2007

diminutamente
porque plenitude acaba logo logo
basta virar a esquina

assim pequeno
consigo continuar o esquema do não-esquema
permanecer noite de dia e dia de noite

sempre palavra e nunca frase

Como se fosse possível
Parei de viver por alguns segundos
Respirei o tempo para dentro de mim
E observei os detalhes minúsculos
Da beleza que esteve sempre aí
Esparramando-se por entre os póros
Alimentando-se do nosso sentir-sem-pensar
Andando pelas frestas das horas marcadas
história com h minúsculo. Dentro dos olhos, na frente dos rostos, por baixo da pele. De criança, pequeno, correr pela casa, escutar o avô falar em outra língua. Sentir cheiro de incenso, Ayrton Senna domingo de manhã, janela e bicicleta com rodinha. Mãe, pai, irmão, comer peixe cru e ver os dias passarem. Andar pela calçada, olhar os pés, tênis novo e desenho na televisão. Praia no verão, colônia de férias, medo da chuva e esperar a família na janela. Cheiro de alga e vapor de arroz quente no rosto.

Entre aqui e lá.

Na história, o mesmo lugar, sempre aqui dentro. Pensamento perene e sensação de um sempre chegar.

8.20.2007


jamais unívoco
mas em camadas
um minuto após o outro

o tempo desfia

a vida que não pára nem passa

existo assim

irrefutável

(no carro um passeio pela avenida e umas palavras silenciadas)

8.19.2007

Buscando o contato direto
já impossível
com o mundo
[para quê as palavras?]
Recosto-me sobre a cadeira

Desde que tive olhos suficientes
resguardo com cuidado todos os céus
azul-escuro-laranja-verde-preto profundo
e os vejo atemporais
a todo o momento que olho para cima.

Assim mantenho a calma e respiro para fora.

8.14.2007

Volta à casa
Dentro de cada coisa
Ouvir calado

8.13.2007

como sob um sono indormível

cansado de si mesmo

acabou escorregando para dentro do próprio esforço

caiu

saiu de si

8.07.2007

retirando as camadas
uma a uma

como quem retira poeira da superfície de lagos

[existir pode ser quase excessivo]

assim se vê através
como concha dentro do meu ouvido

agucei os sentidos todos

e ouvi meu próprio vazio