Fechado
Perdido no ar
consigo diferenciar cada sopro
deitado sobre o meu ouvido
perceber as minúsculas
sílabas esquecidas
fazendo o foco sobre o detalhe
do sorriso mofado que preenche os póros
e os espaços entre os dentes
drogar na esquina da consciência tudo que me sufoca
e - andando de um canto a outro -
delimitar as fronteiras da viagem e retalhar
pedaço por pedaço
imagens amareladas
sobradas
da última refeição de anos.
Soprando a poeira da sombra que não foi
passeio em círculos rodeando o mesmo buraco
que ficou incrustrado no pedaço de carne
apodrecido na cozinha
do último apartamento.
Sofro o tormento calado
escondido atrás do cigarro
e de palavras inteligentes.
Desgastando
contente.