8.26.2009

Sigo me assustando. Não está aí para o meu controle, essa coisa de ser tempo. De sermos ele e, dei-me conta, só ele. Ao tentar manipulá-lo, já fracasso. Preciso ser todo, e não ser nem um pouco aquilo que não é da sua ordem. Deixar-me no seu espaço, assim flácido, elástico, assim tão pouco sólido. De sólido já há tanto! Que tudo mais esteja para além do meu domínio. É um trabalho da memória, essa que se coloca para adiante e me deixa torpe ao já ser meu passado imaginado. Pergunto-lhe quem poderia ser? Impressiono-me sempre quando me vem tão alheio ao que poderia ter pensado. O tempo não se pensa. Fico num estado de pura euforia vazia. Quero preencher-lhe os buracos, mas com isso me ponho num trabalho estúpido, em vão. Necessito adentrá-lo com menos cuidado. Não tomar conta das palavras: não se trata de palavras. Trabalho árduo de não trabalhar, quando tudo me põe assim, num estado produtivo. Besta produtividade. Essa mascara um outro lado: o de não haver lados a serem mascarados. Vai-se sendo tempo toda vida.

2 comments:

Ricardo Fabião said...
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Ricardo Fabião said...

Como se diz quando se gosta de algo com força de não haver limites? Leva uma palavra para dar com o valor exato? Olha, essas palavras causam um certo medo de não enxergá-las de todo, ou de não percebê-las por trás dos trajes pesados das frases. Fico, então, assim, meio parado, vendo uma, enquanto outra me entra pelos cantos que não sei significar, chegando a lugares que não sei como sinto mas gosto.