10.04.2009

Chão

É estranho pensar isso, e mais estranho escrever ou dizer. Mas é como se estivesse alguma coisa por aí, a ser pensada, discutida, esmiuçada aí. Como se o pensamento tivesse aí a sua função, o seu fim. Não digo que seja utilitário o pensamento, mas ele põe algo a mover, retira a estabilidade, arranca as coisas do seu terreno estúpido da certeza. Pensamento como ação - não a "pró-ativa" atividade de fazer aparecer algo no âmbito do concreto, de fazer ir à frente em uma corrida tão mais abstrata quanto mais parece existente em números ou em dados. Mas uma ação que resulte em algumas inversões e que trate do óbvio com o espanto do novo - e sempre nesse caminho. Não exaltar o novo de forma vulgar e leviana, a novidade não é aparição, mas desvelamento.
Esse pensamento, estranhamente, me parece ter chão. Não me parece válido por qualquer motivo, nem por qualquer razão - a razão não o ilumina em qualquer seara, não o valida por qualquer joguete de lógica intrincada. Ele urge a partir de onde pode infiltrar-se, pungir e fazer pensar igual (ou distinto). Ele viaja a partir de um ponto: esse há de ser seguro e, de certa forma, percebido de antemão. Como se estivesse comprometido desde o seu (meu) nascimento. E por isso decidi tão fortemente pelo pensar, por ser desde um lugar, que não é assim, tão geográfico e tão calculável, mas uma situação, uma conjuntura, um devir específico que a mim me toca e que, por ser assim, tão de dentro compreendido por mim, é daí que devo saltar, e daí que devo pescar o óbvio e fazê-lo pensar. Nunca achei que fosse dizer isso, mas meu pensar é mais pensar quando estou no meu lugar.

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