8.09.2009


No canto esquerdo inferior, uma data: 31/3/2009, 23h37. Detalhado até os minutos. Salteando pela memória, achei uma imagem assim, escura, noturna, gente relaxada conversando, bebendo. Todos absolutamente entretidos com suas vidas. É uma rua, há uma marquise e luz branca que ilumina uma faixa da fotografia. Há um senhor, pernas cruzadas, tronco levemente inclinado para a sua esquerda. Ele fala e pouco gesticula. Sugeriria que ouve mais do que pronuncia. Observa com atenção. É terça-feira e deu-se ao direito de ir tomar uma cerveja no bar da esquina.

Na imagem, uma esquina. Ocupada, gente conversando. Gente e esquina (repito algumas vezes o par). A memória não me falha na imagem. Sobreponho imagem e imaginação, e olho para frente, através da janela. A diferença é abrupta e me ponho absorto em pensamentos tão óbvios que me causam pena de mim mesmo. "Que ridículo!". Tenho a imagem pra me dar conta, pra não me esquecer. Do pátio imenso e largo que é, minha memória me coloca tão mais nesse presente que se arrasta com o calor úmido dos dias.

Para isso, a palavra não basta. Tampouco a imagem. Sigo tentando uma instalação segura no intervalo entre as duas coisas. Ai, que bom seria poder. Da varandinha, empurro os pensamentos pra longe, num método estranho da vontade de dizer o indizível. E, ademais, a quem?

Saudades desse devir imperceptível.

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