Viu o sol batendo na pedra.
Toda a manhã, das 6h46 até meio-dia (porque depois já é tarde, aprendera). Viu, todo esse tempo, cada segundo, o sol batendo na pedra.
Ele não batia, pra falar a verdade. Antes, ele parecia se recostar sobre ela, esticar bem os braços e soltar um bocejo daqueles "ai!, que preguiça que eu tenho", como se dissesse. No seu amarelo desbotado, parecia apenas contornar as cores que já estavam lá. Amigavam-se e ternamente trocavam confissões sutis e delicadas, a pedra e o sol. Não batia, de fato.
Então, todo esse tempo, estava o sol a acariciar a pedra. Ele viu, não tirou os olhos nenhum segundo - "os olhos que a terra há de comer", diziam alguns. O sol também chegava na terra. Mas antes da terra tinha o mato, tinha as folhas secas, as formigas paradas, as formigas andando, as formigas carregando as folhas secas e as formigas descansando na sombra da pedra. A terra, essa não merecia tanto assim sua atenção - "só porque era o destino dos meus olhos?"
Em todo esse tempo, pensou muito. Ou melhor, não sabia precisar o quanto havia pensado. Talvez tivesse só olhado - e, depois, pensado. Entre pensar e olhar: qual a distância? Sem dúvidas, havia olhado incansavelmente, chegando até a ver a pedra lhe fazer um aceno, como se tomasse suco de laranja à beira da piscina. Viu até os gominhos de laranja, se movimentando ao calor daquele sol que acariciava a pedra e movimentava o suco. Viu também suor que pingava da testa da formiga que carregava a folha seca - "formiga tem testa?", pensou. Pensou pouco, realmente. Porque também não conseguia tirar os olhos das horas em que a folha seca pulava ligeiramente, voltando a pousar sobre as costas da formiga. Não, esse momento era imperdível!
Meio-dia, não era mais manhã. Olhou tanto, que se perdeu. Não nos pensamentos, mas nas horas - na parte do tempo que não é pensamento, por isso a gente se perde. Dormiu e acordou às 3 horas da tarde, a pedra já dormia calma e profundamente, e o sol já a havia traído com a copa da árvore que se regorzijava toda, enquanto dobrava a esquina da rua seguinte.
2 comments:
porra!
volta a escrever aqui!
=)
beijos
dally
voltei sexta-feira passada.
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