1.02.2009

O dono do ano

Então eles disseram que mudou o ano. Mais uma vez.

Já ele achou graça: é inescapável. Não que se permita ignorar totalmente o passar dos dias - os números que vão junto com a bateria do relógio - não, isso é impossível. Como os outros, ele tem prazos, datas e conta no banco, que enche e esvazia exatamente no compasso do calendário. Mas também não conseguiria viver acreditando na virada de algo para outra coisa diferente. Não que não vislumbrasse a mudança, mas, de fato, não aquela advinda com a passagem de um dia ao outro. Como se o momento da redenção pudesse surgir sempre, a cada 365 dias. "Já estou velho demais pra me levar por essas coisas...", diria, no tom mais espontâneo.

"Feliz ano novo", diriam-lhe (desejariam-lhe?), todas as vezes que se despedissem. Não, talvez não. "Um ótimo não-ano pra você", porventura quisesse ouvir algo assim. Não conseguia nunca formular uma frase pra preencher a demanda das felicitações desse período. Aí, lembrava-se: "não se trata de frases. Nunca".

Reservava-se sempre o direito do alívio com o fim dos festejos. Bom, 02 de janeiro já pode ser como 02 de dezembro e novembro. Voltava ao seu passar do tempo. O seu. E, tinha quase certeza, o de todos. Tempo bom, que passa e que digere as coisas mais materiais possíveis. Tempo, não números (o homem foi suficientemente ambicioso pra transformar em língua aquilo que é pura experiência).

Comeu um chocolate, tomou um vinho e acendeu um cigarro. Assim, sem mais nem menos, já era madrugada e ele foi se dando conta de que o ano é seu e de mais ninguém.

1 comment:

Ayres. said...

Chocolate e vinho combinam.
Sobre o tempo...não sei o porquê, mas sempre tive um certo medo dele. Vai entender.
Sobre Floripa, cheguei hoje de manhã!Ontem passei o dia em SP, fui ao MASP,ao bairro da Liberdade e a tal Galeria do Rock.
Beijo!