1.08.2009

Ao acaso de uma beringela, acontecidos pouco admiráveis


"Qual é o tamanho de um acontecimento?", perguntaria-lhe.

Tamanho de uma linha? Ou de um romance inteiro? A fotografia no jornal, a imagem comentada pelo noticiário da tv? O tamanho do acontecimento é um momento, tempo cronológico? Um dia? Uma noite? Uma madrugada? Tamanho de uma mesa de bar, de uma pista de dança? A extensão de uma música? Uma trepada? Um beijo fantástico?

Acontecimento é extensão? É pautado pela intenção? Pela intenção de não ser acontecimento?

Que espécie de acontecido deixa uma vida mais admirável?

Talvez, menos extensão e definitivamente fora de qualquer referencial de intenção - a "não-intenção" vive apenas pela existência prévia da intenção. Aquilo que não se pega, e que não se comunica. Assim, eu diria, adiantando-me a minha própria pergunta: incomunicável.
Também imbuscável: não se traça uma reta para se chegar a um acontecimento, nem um caminho, nem um projeto. Da ordem do que acontece, dentro do horizonte do sensível (aquilo que se sente sem se pegar, ou muito menos narrar), valorizar o acontecimento - cercá-lo de valores e significá-lo - é já matá-lo. Não se acontece por se querer que aconteça. Acontecimento é contingente e casual. Nunca, porém, causal. Andamos na rua todos os dias, e acontecemos em cada coisa e cada coisa acontece ao nosso olhar - e nosso corpo - no momento mesmo em que não os buscamos.

E não há nada de admirável nisso. (Há algo, em alguma parte?)

1 comment:

Ayres. said...

Verdade...nunca pensei num tamanho de um acontecimento.
Que coisa...