Passam, os dias e as horas. Assim, os pensamentos. Aos poucos, vou chegando em Kyoto. Mesmo que de lá, do outro lado do oceano, creio que nunca tenha saído de verdade.
O tempo é tão ligeiro, amacia o espanto e vai fazendo as coisas acontecerem. Ainda sinto falta do tempo que não passava jamais, de quando não olhávamos pra ele. "Olha aqui, na minha cara", ele esperneava. Não sei por que, mas hoje escuto sua voz, sussurrando como uma brisa no meu ouvido. Abro os olhos e o dia ensolarado me traz alguma boa memória. Sinto falta daquele tempo, ignorado. Era uma mágica suprema, aconchegante e recheada de bons encontros. Agora, na memória, sou muitas saudades. Não tem muito jeito, nasci no meio de tanta coisa inexistente, imaginação tão cheia de reentrências, protuberâncias, escorregos e rebuscamentos; nasci já sentido saudade, eu creio. Coisa esquisita, diriam alguns. Pra mim, sempre que estou, percebo o quanto estive, estiveram, estivemos. O tempo de hoje me assombra, sempre. Desde ontem, quando acordei no meio daquela luz branca e quentinha, debaixo da coberta do meio-dia. Gosto de chá, cabo de guarda-chuva, torrada com manteiga e milho quentinho. Um tempo tão maior do que eu.
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