Domingo
Chegava aos quarenta anos. Percebia que o tempo estava andando pra frente - ou pra trás - e ele não mudava de posição. A juventude um dia já havia sido muito mais interessante. Ela já havia sido infinita. Mas, agora, pensando bem, ele chegava à conclusão de que ela não havia durado nem um dia inteiro.
Das pessoas se espera muita coisa - ele pensava, entre baforadas do cigarro que segurava como segurava há vinte anos atrás. O ineditismo ainda existia? Não, certamente não. Pensava que sua vida foi sempre uma idéia pré-concebida. Imagem feita com cartão de crédito dentro dos cinemas mais sujos que freqüentou, dentro dos buracos mais escuros e barulhentos onde já pulou. Inédito, pra quem espera tudo, é ilusão que sai de página de livro e de muita droga na corrente sangüínea.
A vida é uma merda mesmo. Nostalgia é placebo de vida vazia. Mas toda vida é vazia, chegava ele à conclusão.
- Bom dia, amor. As crianças tão atrasadas pro colégio... Voce já pagou o telefone? Acho que a empregada tá falando demais... Que horas a gente vai passar na casa da mamãe?
Liga o som e espera ônibus passar. Passa no colégio dos filhos, posto de gasolina, trabalho. Almoça, corre com o horário, pega o salário e sai pra passear no domingo. Merda, merda, merda. Pensava nos filhos. Esperava sinceramente - ainda que pouco esperançoso - que eles não vivessem a ponto de descobrir a frustraçao.
Auto-piedade é uma merda.
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