4.26.2009

Da varanda, vejo a cidade se resfriar toda, recolhendo-se como um papel molhado ao secar sob o sol. Mas não há sol. Nem um vestígio. Uns sons avulsos de carros. Um choro de um corvo. Gritaria de crianças. Como se estivessem o tempo inteiro a cortar o todo que ainda não toco. O ar é limpo e o céu é branco e cinza até onde se vê. Venta muito.

Entre um e outro corte, escuto alguns ecos fortes. Sem pensar, chego a sentir o sol batendo sobre a pele. Algumas vozes macias chegam aos ouvidos. Assim, sem pensar, consigo fazer a volta e olhar pra dentro daquela luminosidade. Amarela e azul, amarela e azul. Sinto outros cheiros e minha mão chega a se desdobrar em centenas de dedos, refestelados sobre a superfície macia da cama matinal.

De um a outro, num soluço, volto a estar de pé. Varanda seca e céu molhado. O papel já se encolhe quase ao tamanho de uma poeira.

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